sexta-feira, 19 de outubro de 2007

31

Primeiro quero pedir desculpa à Sara por todo este atraso. Dixcupa tá! ;)

Agora o mais difícil... saber que palavras aqui escrever.
Após algumas introspecções decidi falar um pouquinho de mim, da minha curta experiência de vida... quando aos 25 anos de idade a minha vida deu uma volta de 180º com a adaptação a uma nova realidade... ser imigrante num país enorme como são os EUA.
Nunca há palavras suficientes para descrever essa experiência, mas aqui vão algumas:
Há 4 anos que deixei a mais de 5000 km de distância uma vida... amizades, família... Há 4 anos que o amor foi a principal razão pela qual decidi enfrentar os Adamastores do Oceano Atlântico e procurar a felicidade em terras do Uncle Sam. Não me arrependo minimanente. Estou bem aqui. Sou feliz. Criei raízes.
Mas a minha pátria está sempre na minha cabeça e no meu coração. Não há dia nenhum que não pense no outro lado do mundo, na minha praia, nas amizades e principalmente na minha família.
Não é fácil estar dividido entre dois continentes. Se por um lado me sinto profissional e pessoalmente realizada, por outro as saudades da Terra Mãe são muitas. É esta a sina do imigrantes, dizem muitos. E têm razão! Só quem sai debaixo das saias da sua terra e encara um novo país, sabe o que digo.
A adaptação, integração e a assimilação da cultura norte-americana custou e ainda está em fase de absorção. Todos os dias aprendo. Nasci e estou a crescer de novo, mas todos os dias tento tirar vantagem desta nova vida que escolhi e desta nação de decidi chamar de lar.
Há que aprender a equilibrar os sentimentos e, principalmente, a palavra saudade, essa palavra tão típica portuguesa, que percorre as bocas do mundo e apenas tem um significado único e distinto na língua de Camões.

A seguir deixo-vos com um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, cujo tema é a Pátria.

Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Do longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

- Pedra, rio, vento, casa
Pranto, dia, canto, alento
Espaço, raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.


E porque "
As palavras"

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Assim termino este meu post com Eugénio de Andrade.

Agora passo a palavra à Leonor, a autora do blog E o céu azul brilhará.

Beijinhos.

1 comentário:

Sara disse...

Dixcupas aceites. XD
E apesar disto tudo, acho que não me importava de ir viver prós EUA.