quarta-feira, 1 de agosto de 2007

#19


Ela mandou-me um convite (ou desafio) para eu escrever aqui. Passou-me a batata quente. E eu cá não gosto de ficar com a batata quente nas mãos durante muito tempo. Mas estava para aqui a pensar como fazer para deixar aqui um pouco de mim, e lembrei-me que talvez o melhor fosse deixar mesmo parte de uma outra pessoa.
Pedro.
Leio-o sempre, muitas vezes. Procuro nas suas palavras outros sentidos, encontro nelas pequenas maravilhas. Todos temos acesso às palavras. Mas articulá-las assim, umas atrás das outras, com a perfeição perturbada de quem não sabe que é perfeito está reservado apenas a um pequeno círculo de génios, do qual Paixão faz parte.
Apaixonei-me pelo Pedro (este trocadilho tem tanto de previsível como de inevitável, mas há coisas das quais não podemos fugir) no dia em que abri um livro e este texto me escolheu. Porque me sinto assim tantas vezes, porque sou assim tantas vezes, porque este homem sou eu. O texto faz parte do livro "Vida de Adulto", e chama-se "Apagar":

"Escrevia uma página.
Relia-a e cortava logo alguns parágrafos. Voltava a lê-la e tirava algumas frases. Depois ia às palavras. Reparava na inutilidade de muitas e extraía-as. O que se encontra após uma vírgula também podia desaparecer. Um ponto e vírgula geralmente indicia a ineficácia das frases que une, e eram retiradas.
Continuava durante algum tempo.
Se não fosse a sua mulher roubar-lhe a página, restaria uma palavra, ou talvez nada.
Ele precisava tanto de escrever como de apagar o que escrevia"

E assim sendo, resta-me acrescentar que aí vai ele. Batata quente sai das minhas mãos directamente para as mãos deste senhor. Afinal, cara metade (ainda que virtual) só o é quando se partilha qualquer coisa. Um Blog, por exemplo.

2 comentários:

Mãe Happy disse...

Que espectáculo de fotografia!

Ana A. disse...

E que bem que fiz desafiar-te...